"Sun" é uma fragrância oriental floral abaunilhada que foi lançada no ano de 1989 pela grife alemã Jil Sander. Criação de Pierre Bourdon, Sun carrega elementos quentes e doces, abafados pela íris e também por um discreto patchouli. Reunidos, estes elementos formam juntos com jasmim, cravo, rosa e uma baunilha quase infantil, a verdadeira alma deste perfume, que se define após a efêmera e quase imperceptível saída cítrica.
O frasco é curioso. Sem nenhum artifício estético atraente, parece ter sido desenvolvido para carregar algum creme hidratante ou um filtro solar e não exatamente um perfume. No entanto, sempre me chamou a atenção, talvez justamente por isso: a intrigante simplicidade.
Ela entrou correndo, pezinhos descalços escalaram o banquinho de madeira. Dessa vez ela não podia voar. Estava presa. Que pena, teria sido tão mais fácil!
A ponta dos dedos tocou a base do misterioso frasco que se moveu lentamente, mas de modo insuficiente para estancar a sofreguidão das ansiosas mãozinhas trêmulas.
Pertenceria ele a quem? Cansada, desequilibra. Ela sempre consegue, sempre conseguiu.
Pertenceria ele a quem? Cansada, desequilibra. Ela sempre consegue, sempre conseguiu.
Ela queria aquele frasco! Ela sempre quer o mais difícil! Por que, se isso só a faz sofrer?Talvez ela nem desejasse o fim em si. Masoquista, é viciada no sofrimento da busca.
A porta entreaberta deixou entrar os últimos raios bronzeados do pôr-do-sol refletidos no frasco que repousava sobre a estante mágica.
Frágil, o líquido muda de cor.
Frágil, o líquido muda de cor.
Seria a Terra a responsável por essa transformação? Ou o lado escuro da Lua?
Desejou ardentemente o eclipse solar mas resistiu. Aos seus olhos ele ainda brilhava.Talvez porque ela sabia que ele era diferente. Na cor, no calor, no DNA. Filho do solstício, agora ali, naquela prateleira gelada.
Desejou ardentemente o eclipse solar mas resistiu. Aos seus olhos ele ainda brilhava.Talvez porque ela sabia que ele era diferente. Na cor, no calor, no DNA. Filho do solstício, agora ali, naquela prateleira gelada.
Decidida, resolve alcançá-lo antes que anoiteça mas, mensageira sagaz, a noite de patchouli foi eleita para avisá-la sobre o caos que se aproximava.
Uma lufada de flores quentes rasgam o caminho cítrico. Solo de açúcar mascavo, doce perigo. A porta bate num estrondo de anis. Tudo treme. Sobre o mel da rosa salta o frasco adorado quebrando-se em mil pedaços cortantes.
É tarde pra fuga. No traiçoeiro tabuleiro de sândalo, só a torre de íris está em pé.
Sobre os cacos, poeira mistura-se ao gosto agridoce das lágrimas.
Uma lufada de flores quentes rasgam o caminho cítrico. Solo de açúcar mascavo, doce perigo. A porta bate num estrondo de anis. Tudo treme. Sobre o mel da rosa salta o frasco adorado quebrando-se em mil pedaços cortantes.
É tarde pra fuga. No traiçoeiro tabuleiro de sândalo, só a torre de íris está em pé.
Sobre os cacos, poeira mistura-se ao gosto agridoce das lágrimas.
Ela coleciona cicatrizes de lírio.
A personagem que tem ligação com a fragrância de Sun é Isabeau d´Anjou ("Ladyhawke"), interpretada pela sempre lindíssima Michelle Pfeiffer no filme "O Feitiço de Áquila", de 1985.
E é isso aí, falô. Sem mais.